sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tarde Vaga

Que a força do medo que tenho

não me impeça de ver o que anseio

que a morte de tudo em que acredito

não me tape os ouvidos e a boca

pois metade de mim é o que eu grito

a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe

seja linda ainda que tristeza

que a mulher que amo seja pra sempre amada

mesmo que distante

pois metade de mim é partida

a outra metade é saudade.

Quer as palavras que falo

não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor

apenas respeitadas como a única coisa

que resta a um homem inundado de sentimentos

pois metade de mim é o que ouço

a outra metade é o que calo.

Que a minha vontade de ir emborase transforme

na calma e paz que mereço

que a tensão que me corrói por dentro

seja um dia recompensada

porque metade de mim é o que pensoa outra metade um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste

e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável

que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso

que me lembro ter dado na infância

pois metade de mim é a lembrança do que fui

a outra metade não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

pra me fazer aquietar o espírito

e que o seu silêncio me fale cada vez mais

pois metade de mim é abrigo

a outra metade é cansaço.

Que a arte me aponte uma resposta

mesmo que ela mesma não saibae que ninguém a tente complicar

pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer

pois metade de mim é platéiaa outra metade é canção.

Que a minha loucura seja perdoada

pois metade de mim é amor

e a outra metade também.



(Oswaldo Montenegro)

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